quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

É URGENTE O AMOR (Eugénio de Andrade)




É urgente o amor. 

É urgente um barco no mar. 

É urgente destruir certas palavras, 
ódio, solidão e crueldade, 
alguns lamentos, 
muitas espadas. 

É urgente inventar alegria, 
multiplicar os beijos, as searas, 
é urgente descobrir rosas e rios 
e manhãs claras. 

Cai o silêncio nos ombros e a luz 
impura, até doer. 
É urgente o amor, é urgente 
permanecer.

AMAR (Florbela Espanca)





Eu quero amar, amar perdidamente! 
Amar só por amar: Aqui... além... 
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente 
Amar! Amar! E não amar ninguém! 

Recordar? Esquecer? Indiferente!... 
Prender ou desprender? É mal? É bem? 
Quem disser que se pode amar alguém 
Durante a vida inteira é porque mente! 

Há uma Primavera em cada vida: 
É preciso cantá-la assim florida, 
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! 

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada 
Que seja a minha noite uma alvorada, 
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Hoje, me deu uma  vontade danada de ler Carlos Drummond de Andrade. Um dos muitos poemas que gosto dele é "As sem razões do amor", que posto a seguir.
Drummond, com seu jeitinho mineiro sabia, como ninguém, chegar ao coração da gente.
Bom dia!

As sem razões do amor





Eu te amo porque te amo. 

Não precisas ser amante, 
e nem sempre sabes sê-lo. 
Eu te amo porque te amo. 
Amor é estado de graça 
e com amor não se paga. 

Amor é dado de graça, 
é semeado no vento, 
na cachoeira, no elipse. 
Amor foge a dicionários 
e a regulamentos vários. 

Eu te amo porque não amo 
bastante ou demais a mim. 
Porque amor não se troca, 
não se conjuga nem se ama. 
Porque amor é amor a nada, 
feliz e forte em si mesmo. 

Amor é primo da morte, 
e da morte vencedor, 
por mais que o matem (e matam) 
a cada instante de amor.